domingo, 27 de fevereiro de 2011

OFICINAR

Oficina:
lugar de desmanche,
limpeza de peças, 
reparos,
amparo do velho,
refazer em novo,
o que já existia.
Em outras palavras
reler, polir,
renovo aplicado:
berçário.

(Nena Sarti - Caderno de Oficinação Poética - 2007 - Oficinas Bairro Jardim Ouro Verde - Escola Municipal Dr. Eduardo Olímpio Machado. Bairros Nova Campo Grande e Jardim Carioca - Escola Municipal Fauze Scaff Gattass.)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Projeto Poesia Na Cidade

O Projeto Poesia na Cidade é um título da Diretora de Cultura da FUNDAC,MS Iolete Moreira desde 2003 e apoiado pela Fundação Municipal de Cultura do Município de Campo Grande, MS através de seus ex-Diretores Presidentes Américo Calheiros e Solimar Alves de Almeida. Sedimentou-se nos anos de 2006, 2007 e 2008 em seis regiões da capital tendo como Oficineiros e Oficineiras os escritores e poetas: Carmem Lúcia, Nena Sarti, Rubens Costa Marques e Ruberval Cunha.Usando técnicas das mais variáveis os oficineiros alavancaram em cada região específica, cabeças pensantes enriquecendo individualmente, em grupos e socialmente os alunos e alunas que passaram por esses processos literários, agregando em cada um conhecimentos básicos de literatura e incentivando a construção de poemas vislumbrando a construção de um mundo mais justo no que concerne ao intelectualismo tão necessário ao povo brasileiro que não lê por falta de recursos e incentivo.
Foram anos de intensa movimentação nos conteúdos escolares, tanto que foram ouvidos diversos testemunhos de alunos, de pais e professores sobre o avanço no pensar e no agir desses que praticavam a arte do ler, entender e aplicar os conhecimentos aprendidos.
Devido a esse sucesso que infelizmente está apenas nas prateleiras de bibliotecas, resolvi apresentar aos meus queridos leitores essas relíquias que eu entendo não podem ficar apenas na lembrança de quem por essas oficinas passaram um dia.


- DO CADERNO DE OFICINAÇÃO POÉTICA DE 2006 - BAIRRO COOPHAVILA II E JARDIM OURO VERDE -

OFICINASOM

Canto de pássaros,
amanheceres...
sons de todos os dias
iguais?
Quais!
Cantos eternos.
Cantoria lá,
chamada do sol em fá,
cada um por si,
homens em ré, sem dó.
Faltantes do mi comigo.
oficinasom
Oficinação aconteceu...
Amanheceu! 
(Oficineira Nena Sarti)


As emoções se concretizam

     Na ocasião do lançamento desse caderno escrevi que:
"Comecei a escrever aos 12 anos de idade, de repente, sem motivo especial, essa coisa dogmática que não consegue ser explicada estava acontecendo comigo. Ouvi muitos nãos, recebi muitos aplausos, cai, levantei, refleti, estudei, aperfeiçoando sempre a arte do dizer poético.
     Estou na caminhada literária há quarenta anos, premiada umas trinta vezes, porém a satisfação que sinto nesse momento de minha vida não tem como expressar. As emoções concretizam-se quando a vivemos. Somente nosso coração sabe afirmar a dosagem correta da intensidade.
     Entender que ensinar é aprender torna-se um momento raro de vivência. Transmitir aos outros, impossível, posto que é único.
     Agradecer um por um dos que proporcionaram esse momento, praticamente inviável, uma vez que equipes ganham, inteligências ganham, vida, vidas e vidas ganham..."
       
Recordar é viver. Fico feliz em ler no presente o passado recente, almejando um futuro melhor para nossas crianças, nossos jovens, nossos adultos sedentos de conhecimentos. Observem a criação de Alexandre Guilherme da Silva, menino de 13 ou 14 anos que não queria fazer a oficina porque sempre lhe disseram que poesia era apenas para meninas, mas que com o passar dos dias entendeu os porquês da aprendizagem:

Luz no fim do túnel

Muitos dizem
que sempre há luz 
no fim do túnel.
O que seria a tal luz?
A luz poderia ser alegria,
o amor de uma pessoa
que você também ama.
O túnel pode ser a tristeza, sofrimento...
Para mim não!
O túnel é vida,
não as decisões que faço hoje,
reflexo do amanhã.
São batalhas que trago comigo,
mas também com outras pessoas.
O túnel é o labirinto da vida.
A tal luz é o fim de uma vida triste
e o início de uma vida alegre,
cheia de harmonia.
Andar pelo túnel, não andei!
Mas preciso dessa luz!

É claro que podemos colocá-la como prosa poética, no entanto conseguimos com esse jovem a sua expressão de vida, juntamente com o estudo aprimorado de morfologia, gramática, sintaxe e outros... É esse porém de que falava. A OficinAção poética nos bairros foi um momento único que tenho certeza da necessidade de repetir.