quinta-feira, 1 de abril de 2010

De tempos em tempos

Há uns tempos que esvaziam-se as mentes.
E mentem que não vão semear.
Emburram, dizem que estão de mal "belém-belém" e você fica "a ver navios" sem ter o mar.
Nessa contemplação em desertos minguantes, removo histórias antigas.
O cheiro de mofo revive narinas assanhadas querendo alquimia familiar.
E não é que dá certo?!
Tem cada conto, em cada canto, que nem te conto e nem te canto. As reminiscências são só minhas.
Meu avô lavava o chiqueiro dos porcos em milenares enxaguadas de água e sabão. Até as ripinhas ficarem alvas e cheirosas. No fundo, no fundo: cheiro de porco lavado.
Retirava as bostas deles e jogava na horta, que de faceira ria e as cores nasciam viçosas.
Depois desse ato de varredura, a casa estava pronta para receber novos hóspedes.
Enquanto os inquilinos não chegavam, eu brincava de casinha, com direito a sala de visitas, tapetes, almofadas. Tudo colorido, tudo lindo, tudo carregado por mim, pelo meu avô e pelo Mimi que visitava as bonecas e dormia com elas.
As cortinas voavam em tom maior.
O chiqueiro ficava embaixo de um pé de caqui. Meu coração conseguia permanecer embaixo das costelas. Se não fossem elas, podia pular fora de mim de tanta felicidade.
Que coisa doída essas lembranças. Que coisa benéfica essas passagens em nossa vida.
Há uns tempos que esvaziam-se as mentem e, mentem que não vão semear.
Acaba de passar um navio por aqui, deixando em meus olhos um imenso mar.

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