sábado, 31 de março de 2012

PÃO

Com unhas pintadas de cor-de-rosa, encontrei a cozinha. Modelei pão de trigo lembrando-me de madrinha Rita. Saboreei o cheiro do pão de trigo que saía de seus olhos gentis. Corpo, alma e espírito virgens. Cara limpa, casa limpa, aroma do café e pão bonito.

- Por que nunca se casou madrinha Rita?
- Carece não fia. Homem é bicho ruim, tal qual graxaim, quando entoca ninguém mais tira. Tome cuidado fia! Você é muito bonita, cabelos compridos feito manto de santa, coxas roliças. Homem não ama mulher, toma posse.

Durou pouco madrinha Rita. Cancêr no útero. Ironia do senhor do destino. Fechou os olhos sorrindo, um longo suspiro e só. Devota de Santa Rita. Vida semelhante com a da Santa.

Não chorei com a morte de seu corpo. Anjo não morre, translada.

Quando se tem dezesseis anos e coxas grossas não se ouve conselho de madrinha, o que depois é lamentado.

Nossa passagem por esse planeta deveria ser o inverso: nascer velha e morrer moça para poder entender coisas.

7horas 45 minutos, tempo para tirar o pão do forno.

Pão ficou bonito. Esmalte cor-de-rosa das minhas unhas desmaltou.

Benção madrinha Rita! Aqui a saudade recebeu fermento!

(Caderno de Ponderações - 2007- Adelthy Lydia - heterônimo de Nena Sarti)

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